sexta-feira, 24 de março de 2017

Dad Bod: mais uma cretinice alienante à desserviço do homem

Faz algum tempo que li esta matéria na GQ Brasil a respeito da nova preferência entre as mulheres estadunidenses: o dad bod, ou traduzindo para o bom e velho português, o corpinho ‘pai de família’.

Confesso que ao ler não sabia se morria de dar gargalhadas ou se lamentava o fato de vivermos em um mundo cada vez mais permeado pela hipocrisia e falsidade. Pobre daquele incapaz de desenvolver um senso suficientemente crítico para perceber os perigos que algumas ideias estapafúrdias são capazes de albergar.

Eu e tantos outros, estamos cansados de ouvir a velha ladainha de que gosto é algo bastante particular e que cada um tem o seu. Balela. O padrão de beleza não é (e não deve) ser absoluto, mas uma breve observação deixa clara que existem certos padrões estéticos sujeitos a uma maior predileção.


O quadro pintado por Botticelli representa bem o ideal de beleza que vige até os dias modernos.

Essas predileções, em parte, são resultado da forma como nosso ser foi moldado, como máquina de sobrevivência que é, pelos replicantes (genes), ao longo de milhares de anos de evolução.[1] Um corpo atlético e livre de adiposidades é bem cotado pelas mulheres pois nosso ser interpreta aquele indivíduo em específico como possuidor de genes que perpetuarão uma máquina de sobrevivência mais apta a cumprir a finalidade daqueles, qual seja, replicação (com a melhor qualidade possível).

É interessante observar que esse padrão é, paulatinamente, adaptável ao cenário no qual o indivíduo está inserido (seleção natural), e podemos constatar isso ao voltarmos milhares de anos e observarmos outra Vênus, bem diferente da idealizada por Botticelli.


Senhores(as), eu vos apresento a Vênus de Willendorf. Pobre Willendorf...

Parece estranho o fato do sex symbol dos dias de hoje ser diametralmente oposto ao dos tempos pré-históricos, mas nada que uma boa dose de biologia/psicologia evolutiva para sanar o imbróglio: as preferências tanto destoam justamente porque os cenários nos quais os indivíduos estão inseridos são bastante diferentes. Num ambiente primitivo onde reservas energéticas (gordura) eram determinantes para a sobrevivência humana, as gordinhas eram as mais bem cotadas. Bem diferente dos dias de hoje em que o acúmulo de reservas energéticas sem gasto algum acabam gerando inúmeros problemas de saúde tais como diabetes e hipertensão. Aí está a explicação porque deixamos as gordinhas de lado e acabamos preferindo as magrinhas.

Precisei me ater a esses circunlóquios para chegar ao ponto que realmente interessa, o tal do dad bod. Acredito que o dad bod seja o elo perdido entre a “vênus masculina” de Willendorf e a de Botticelli. O meio termo, por assim dizer.

É muita ingenuidade acreditar em pitacos sustentados em pseudo-ciência como o fato de que homens com corpinho “pai de família” são bem mais cotados que homens com porte atlético, pelo fato de serem menos intimidadores ou de as deixarem menos seguras quanto ao próprio corpo.

Tanto homens quanto mulheres não buscam assumir um relacionamento com alguém com poder de barganha inferior somente para se sentirem mais seguros quanto ao próprio corpo. Os genes estão lá e moldaram seu corpo para conseguir replicar a melhor combinação genética possível, o que elimina o fato de relacionamentos feitos exclusivamente para inflar o próprio ego (essa, na verdade, é uma patologia da mente).

Pobre daquele que ler a matéria da GQ Brasil sem as lentes do senso crítico. Vai acabar achando que ser mais um mediano é um ingresso para o panteão dos mais bem cotados. São artigos irresponsáveis como esses que transbordam angustia em homens que confiam cegamente nas groselhas ditas por aí.
A prova disso tudo? Elementar meu caro Watson... vá em um shopping, em uma balada, em um restaurante de luxo e veja quem está em companhia das mais belas mulheres (tirando suspeitas exceções): você não vai ver nenhum dad bod ao lado dessas mulheres. Geralmente serão pequenas réplicas de Christian Gay Grey:


Dad Bod? Quem é esse?

A preferência só cai sobre os homens com corpinho “pai de família” justamente quando elas estão atrás de um pai de família. Em outras palavras, quando estão velhas (e se dizem “maduras”), ficam citando Clarice Lispector feito papagaios adestrados e nenhum homem com alto poder de barganha vê naquela mulher um investimento que corresponderá ao seu próprio. A partir daí ocorre o “arrependimento”, o “amadurecimento”. A esses homens restarão as responsabilidades, as reclamações e os chiliques que nunca foram direcionadas aos destacados e bem-sucedidos.


Jailson Mendes approves.

Dad Bod? Parece que alguém esqueceu um “e” entre o “D” e o “a” nessa história...

Au revoir!


[1] Para mais informações, recomendo a leitura d’O Gene Egoísta, de Richard Dawkins.

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