Faz algum tempo que li esta
matéria na GQ Brasil a respeito da nova preferência entre as mulheres
estadunidenses: o dad bod, ou
traduzindo para o bom e velho português, o corpinho ‘pai de família’.
Confesso que ao ler não
sabia se morria de dar gargalhadas ou se lamentava o fato de vivermos em um
mundo cada vez mais permeado pela hipocrisia e falsidade. Pobre daquele incapaz
de desenvolver um senso suficientemente crítico para perceber os perigos que
algumas ideias estapafúrdias são capazes de albergar.
Eu e tantos outros,
estamos cansados de ouvir a velha ladainha de que gosto é algo bastante
particular e que cada um tem o seu. Balela.
O padrão de beleza não é (e não deve) ser absoluto, mas uma breve observação
deixa clara que existem certos padrões estéticos sujeitos a uma maior
predileção.
O quadro pintado por Botticelli
representa bem o ideal de beleza que vige até os dias modernos.
Essas predileções, em
parte, são resultado da forma como nosso ser foi moldado, como máquina de
sobrevivência que é, pelos replicantes (genes), ao longo de milhares de anos de
evolução.[1] Um
corpo atlético e livre de adiposidades é bem cotado pelas mulheres pois nosso
ser interpreta aquele indivíduo em específico como possuidor de genes que
perpetuarão uma máquina de sobrevivência mais apta a cumprir a finalidade
daqueles, qual seja, replicação (com a melhor qualidade possível).
É interessante observar
que esse padrão é, paulatinamente, adaptável ao cenário no qual o indivíduo
está inserido (seleção natural), e podemos constatar isso ao voltarmos milhares
de anos e observarmos outra Vênus, bem diferente da idealizada por Botticelli.
Senhores(as), eu vos apresento a Vênus
de Willendorf. Pobre Willendorf...
Parece estranho o fato
do sex symbol dos dias de hoje ser
diametralmente oposto ao dos tempos pré-históricos, mas nada que uma boa dose
de biologia/psicologia evolutiva para sanar o imbróglio: as preferências tanto destoam
justamente porque os cenários nos quais os indivíduos estão inseridos são
bastante diferentes. Num ambiente primitivo onde reservas energéticas (gordura)
eram determinantes para a sobrevivência humana, as gordinhas eram as mais bem
cotadas. Bem diferente dos dias de hoje em que o acúmulo de reservas
energéticas sem gasto algum acabam gerando inúmeros problemas de saúde tais
como diabetes e hipertensão. Aí está a explicação porque deixamos as gordinhas
de lado e acabamos preferindo as magrinhas.
Precisei me ater a
esses circunlóquios para chegar ao ponto que realmente interessa, o tal do dad bod. Acredito que o dad bod seja o elo perdido entre a
“vênus masculina” de Willendorf e a de Botticelli. O meio termo, por assim
dizer.
É muita ingenuidade
acreditar em pitacos sustentados em pseudo-ciência como o fato de que homens
com corpinho “pai de família” são bem mais cotados que homens com porte
atlético, pelo fato de serem menos intimidadores ou de as deixarem menos
seguras quanto ao próprio corpo.
Tanto homens quanto
mulheres não buscam assumir um relacionamento com alguém com poder de barganha
inferior somente para se sentirem mais seguros quanto ao próprio corpo. Os
genes estão lá e moldaram seu corpo para conseguir replicar a melhor combinação
genética possível, o que elimina o fato de relacionamentos feitos
exclusivamente para inflar o próprio ego (essa, na verdade, é uma patologia da
mente).
Pobre daquele que ler a
matéria da GQ Brasil sem as lentes do senso crítico. Vai acabar achando que ser
mais um mediano é um ingresso para o panteão dos mais bem cotados. São artigos
irresponsáveis como esses que transbordam angustia em homens que confiam
cegamente nas groselhas ditas por aí.
A prova disso tudo?
Elementar meu caro Watson... vá em um shopping, em uma balada, em um
restaurante de luxo e veja quem está em companhia das mais belas mulheres
(tirando suspeitas exceções): você não vai ver nenhum dad bod ao lado dessas mulheres. Geralmente serão pequenas réplicas
de Christian Gay Grey:
Dad Bod? Quem é esse?
A preferência só cai
sobre os homens com corpinho “pai de família” justamente quando elas estão
atrás de um pai de família. Em outras palavras, quando estão velhas (e se dizem
“maduras”), ficam citando Clarice Lispector feito papagaios adestrados e nenhum
homem com alto poder de barganha vê naquela mulher um investimento que
corresponderá ao seu próprio. A partir daí ocorre o “arrependimento”, o
“amadurecimento”. A esses homens restarão as responsabilidades, as reclamações
e os chiliques que nunca foram direcionadas aos destacados e bem-sucedidos.
Jailson
Mendes approves.
Dad Bod? Parece que alguém esqueceu um “e” entre o “D” e o “a” nessa
história...
Au
revoir!
[1] Para mais informações, recomendo a leitura d’O Gene Egoísta, de Richard
Dawkins.
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