sexta-feira, 24 de março de 2017

O Dilema do Prisioneiro (e pondo um ponto final em algumas histórias)

Eu já disse o quanto o livro O Gene Egoísta, de lavra do ilustre Richard Dawkins é uma leitura no mínimo interessante para quem anda com caraminholas na cabeça a respeito de como opera as vontades humanas na hora de escolher uma cara metade? É verdade que o livro trata do comportamento animal de forma geral (embora pontue alguns comportamentos particulares como o dos elefantes-marinhos, tricópteros e louva-deuses), mas cai como uma luva na espécie humana. Afinal de contas, no que pese sermos os primeiros alforriados da tirania dos genes, continuamos prisioneiros de nossa sina animalesca.

Em determinado ponto o livro aborda o problema da teoria dos jogos chamado de o Dilema do Prisioneiro para abordar a questão do Altruísmo x Egoísmo das espécies. Resumidamente a história é a seguinte: A e B são presos pela polícia, que possui provas suficiente para condenar os dois criminosos, mas separando-os, oferece o mesmo acordo para ambos:

1) Se um testemunhar e o outro se manter em silêncio, aquele ganha a liberdade ao passo que este é condenado a 10 anos de prisão.
2) Se ambos se manterem em silêncio, ambos recebem uma pena reduzida de 6 meses de prisão.
3) Se ambos testemunharem um contra o outro, ambos recebem 5 anos de prisão.
Lembrando que os prisioneiros não sabem a escolha um do outro.

A princípio, a melhor escolha nos parece testemunhar contra nosso parceiro de crime. Se ele escolhe o silêncio, obtemos o melhor resultado. Se, no entanto ele escolhe testemunhar contra nós, pegamos 5 anos de cana, mas esse é um destino mais agradável do que se manter em silêncio e pegar o dobro da pena.

Digo a princípio, porque qualquer pessoa com um mínimo pensamento lógico chega a essa conclusão e percebe que o mais provável é que fatalmente ambos pegarão 5 anos de cadeia, já que um testemunhará contra o outro. No entanto, se os dois jogadores decidem se manter em silêncio, poderão reduzir 4 anos e meio de pena, um tempo considerável.

Eis que aí surge o dilema: qual das duas lógicas o parceiro de crime escolheu? Cooperar ou trair? Na natureza encontramos os dois extremos: de um lado, o louva-deus fêmea devora a cabeça do macho durante a cópula para que este perca o controle do sistema nervoso e provoque na fêmea um alto índice de fecundidade ao mesmo tempo em que faz um lanchinho para manter as reservas energéticas necessárias para cuidar de suas crias (isso quando o apetite é moderado, se a fome for muita, o pobre louva-deus macho é devorado por completo). Já os injustiçados morcegos-vampiros (também conhecidos como morcegos hematófagos), considerados por muitos como criaturas nefastas dos contos góticos vitorianos, possuem um padrão de cooperação mútua que auxiliam na perpetuação da espécie ao longo do tempo.

E o que é que essa chatice toda tem a ver com relacionamentos, você me pergunta. Elementar, meu caro Watson: em tempos de delação premiada e de mulher que faz unha no motel com gordo, eu diria que tem bastante a ver, ou melhor, TUDO a ver.

O Dilema do Prisioneiro diz muito a respeito dos dilemas (e escolhas) pelos quais todos os relacionamentos passam: ficar com ela até que a novinha nos separe ou até que a morte nos separe? Ficar com ele até que o desemprego nos separe ou até que a morte nos separe?

Não se engane: a situação é mais comum que você pensa, e o resultado na maioria esmagadora dos casos acaba em traição: (de um modo geral, e não só a traição com amante).
 As espécies, de modo geral, tem algo a seu favor: a oportunidade de retaliar caso seja penalizada por uma traição. Vamos considerar as seguintes possibilidades.

1) Lindinha namora com Riquinho. Riquinho e Lindinha possuem poderes de barganha altos e equivalentes, mas com o tempo o poder de barganha de Feinh... digo, Lindinha começa a cair drasticamente ao passo que o de Dan Bilz... digo, Riquinho só aumenta. Riquinho, opta por retaliar já que Lindinha “traiu” seu investimento, dando-lhe prejuízo. Riquinho termina com Lindinha e passa a namorar Florzinha. Para o dessabor de Lindinha, nenhum homem parece demonstrar interesse nela já que está velha e feia. Lindinha morre sozinha com uma penca de gatos a tiracolo.

2) Lindinha namora com Pobrinho. Pobrinho e Lindinha tem poderes de barganha diametralmente opostos: Pobrinho tem poder de barganha quase inexistente, ao passo que Lindinha tem um poder de barganha estratosférico. Apesar de tudo, Pobrinho é esforçado: estuda, trabalha e tem verdadeira devoção por Lindinha. O tempo passa, e Feinh... ops, Lindinha já não é mais aquela: titio Cronos, vulgo Fanfarrão, deu as caras. Pobrinho agora é concursado federal e tem o mesmo poder de barganha estratosférico que sua amada tinha há tempos atrás. Apesar dos poderes de barganha terem invertido, Pobrinho lembra do sacrifício de Lindinha em estar com ele em sua juventude e opta por cooperar. Lindinha e Pobrinho morrem dividindo a mesma paixão; e a mesma dentadura também.

Notem que são casos bastante pontuais e o fato de você namorar com um pobre coitado na sua juventude não vai garantir que ele vai estar lá para você na sua velhice. O mesmo pode ser dito para aquelas que namoram com um alfa badass from darkest hell: namorá-lo não significa que você acabará o fim dos seus dias sozinha.

Porém, eu gostaria de fazer aqui alguns adendos: o cara feinho da escola/faculdade exala carência. A escassez traz a valorização. Veja como tratamos a água no nosso dia a dia e um africano subsaariano a trata. As chances de ele permanecer contigo mesmo que no futuro você vire Jabba the Hutt (ok, ok, ok... não é pra TANTO né...) são imensas. Já o playboy tem mulheres a todo tempo e a todo lugar. As chances de você se parecer mais com um bem de consumo do que com um ser humano aos olhos dele não devem ser ignoradas.

Então tudo se resume a pagar na juventude e ganhar na velhice ou vice-versa? Ok, então prefiro ganhar na juventude e pagar na velhice já que pelo menos tenho a garantia de que aproveitarei bem pelo menos uma fase da minha vida! Esse pensamento, apesar de tentador, é uma grande armadilha para as mulheres, e aqui explico o por quê (ou porquê, ou por que, ou porque, foda-se, eu sempre detestei os porquês): estudos conduzidos na Inglaterra indicam que as mulheres alcançam o ápice de seu poder de barganha aos 30 anos (quando são laureadas balzaquianas), ao passo que os homens alcançam aos 40, uma diferença de 10 anos. Quando uma mulher opta por um Riquinho, o mais provável é que o encanto que ele tem por ela acabe quando ela tiver cerca de 30 anos. Passará cerca de 50 anos sozinha, se considerarmos que ela viva 80 anos. Se, no entanto, ela optasse pelo Pobrinho, poderia ganhar 50 e perder 30.

Não podemos também esquecer que existem os santos (ou seriam idiotas?) que insistem em cooperar mesmo diante de reiteradas traições. Talvez seus genes se perpetuem, mas sua máquina de sobrevivência será punida do início ao fim de sua existência. Considerando que somos os únicos a nos rebelarmos contra os replicadores, acredito que devamos pensar mais em nossas máquinas de sobrevivência do que nos nossos pequenos hóspedes.

Claro, tudo se resume a escolhas. Se sua intenção é curtir a juventude e arranjar um idiota que nunca teve a oportunidade de curtir a vida para arcar com todos os ônus ao passo que você vai gozar de todos os bônus, boa sorte. Se sua intenção é sacrificar sua juventude para aproveitar sua vida adulta e sua velhice com um cara que tem grandes chances de gostar de você, mesmo depois de Cronos tê-la massacrado, parabéns, você talvez não tenha feito a escolha perfeita mas sem sombra de dúvidas está longe de ser uma escolha estúpida.

Para laurear com a devida pompa este texto, peço a licença de tomar de empréstimo a sabedoria lapidar do saudoso Pablo Neruda: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.”




Au revoir!

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